domingo, 20 de junho de 2010

SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR 5

Versículo 12:

“ e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado (perdoamos) aos nossos devedores”;

Em Lucas11.4 4 encontramos este versículo da seguinte forma: “e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve;” - Lucas faz seu registro usando a palavra pecado no lugar de dívidas, o que nos leva a entender que os pecados podem ser considerados dívidas em relação a Deus. No grego clássico, o termo visava às dívidas no sentido literal, e a mesma palavra é aqui usada para indicar as dívidas morais e a necessidade que temos do perdão de Deus e da dependência de sua misericórdia.

O uso do termo “como nós temos perdoado” não significa que Deus não nos perdoará se nós não perdoarmos (embora os vss. 14 e 15 levem a isso). O verdadeiro sentido é a maneira do perdão. Nós devemos perdoar gratuitamente, sem esperar coisa alguma em recompensa, assim como Deus nos perdoa independentemente do fato de que poderemos voltar a pecar da mesma forma (o mesmo pecado ou não). Ou seja, ele o faz sem exigências, sem condições.

Normalmente ao perdoarmos alguém somos humanamente levados a dizer: “Eu te perdôo, mas não quero ver você fazer isto de novo”, ou seja, impomos condições para que o perdão continue valendo. Deus não! Ele nos perdoa e esquece o fato.

“Há uma história que fala de um homem muito usado por Deus através de um dom conhecido pelo grupo dos evangélicos como o dom da revelação.

Quando da vontade de Deus, por onde ele passava, era usado para ajudar as pessoas revelando fatos ocorridos que estavam atrapalhando seu crescimento espiritual, assim como as alertando de conseqüências futuras em função de atitudes erradas que deveriam ser revistas e mudadas.

Certo dia um homem que, embora cresse em Deus, ao ficar sabendo que este pregador estaria presente em uma determinada igreja, decidiu ir até lá para ‘desmascará-lo’.

Assistiu a mensagem, e ao final, quando o mensageiro perguntou se alguém gostaria de falar algo, ele aproveitou para dizer que não acreditava no uso de tal dom.

Disse que só acreditaria no mensageiro se Deus lhe falasse quando foi a última vez que ele tinha cometido um pecado.

O mensageiro, falou que oraria a Deus e se fosse da vontade dele isto se revelaria.

Passado alguns minutos de oração, o mensageiro parecia não entender o que Deus queria dizer. Enquanto isso, o homem debochava dele diante de todos os presentes, dizendo: ‘vejam como ele não consegue ter a resposta de Deus... ele é uma farsa...’

Repentinamente, o mensageiro parou de orar e virou-se para o público. O homem questionou: ‘Já sabe qual foi meu último pecado? Deus já lhe revelou?’

‘Não!’, disse o pregador, ‘Não posso lhe dizer qual foi seu último pecado.’

O homem riu diante de todos, dizendo que ele era uma fraude. Foi quando o mensageiro lhe disse:

‘Não posso e ninguém pode lhe dizer qual seu último pecado, e nem mesmo Deus lhe dirá.’

‘Como assim?’, perguntou o homem.

‘Deus me falou que não lhe dirá qual foi o seu último pecado porque você já pediu perdão e foi perdoado. Ele jamais faz uso do pecado de alguém contra a própria pessoa. Deus ‘esqueceu’ seu pecado, deixou para trás, de forma que não o jogará na sua cara, nem mesmo diante de seu desafio, pois caso contrário ele estará indo contra sua própria natureza.”

É desta forma que Deus trata nossos pecados, quando ele perdoa, perdoa por completo, não traz à mente para nos lembrar, não usa como argumento para nos convencer de nada, ao contrário do que nós fazemos. Devemos buscar o aperfeiçoamento de nossa capacidade de perdoar, tendo sempre em mente que amor e perdão devem caminhar juntos.

A análise até aqui nos encaminha ao entendimento de que o termo utilizado temos perdoado” tem em vista uma ação terminada antes do perdão de Deus, o que não significa que temos que perdoar antes de receber o perdão. Mas é focalizado na atitude dos discípulos de Cristo (todos nós), que ao perdoarem as dívidas alheias, sempre poderão esperar pela misericórdia de Deus. O meu e o seu perdão para os que estão em falta para conosco deve ocorrer independente deles, e jamais servirá como “moeda” de barganha para com Deus, a fim de que sejamos perdoados em nossas próprias dívidas. O perdão deve ser uma atitude natural no coração do crente em Jesus Cristo, de tal forma que ele será aplicado antes dele analisar se terá ou não benefícios pessoais através dele.

Deixemos bem evidenciado aqui que esta não é uma atitude fácil. Por isso devemos procurar imitar a atitude divina. Porém, através das experiências vividas e relatadas por muitos cristãos, sabe-se que o ato de perdoar traz em muitos casos maior alento ao coração daquele que concede o perdão do que àquele que recebe.

Meu desejo é que eu e você, movidos pela ação de Deus em nossas vidas, possamos aprender a liberar perdão.

Versículo 13:

“ e não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal. [Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém.] (Lucas 11.1-4 também omite)[1]

“e não nos deixes entrar em tentação”

A tentação é entendida como sendo o apelo para cometer pecado. Sabemos, no entanto, que Deus não tenta ninguém para o mal.

Podemos então entender que Jesus está pedindo que Deus nos dirija de tal forma, que não nos vejamos em situações nas quais sejamos tentados, livrando-nos assim do mal. Desta forma, a própria tentação não viria de Deus, mas as circunstâncias que conduzam à tentação podem vir da parte dele.

Alguns ilustram essa tentação como a tentação de Adão e Eva. Deus teria criado as circunstâncias da tentação, ao mesmo tempo em que advertiu sobre a prova ou teste.

Ao lermos Paulo no livro de I Cor.10.13, conseguimos entender melhor isso:

“3 Não vos sobreveio nenhuma tentação, senão humana; mas fiel é Deus, o qual não deixará que sejais tentados acima do que podeis resistir, antes com a tentação dará também o meio de saída, para que a possais suportar.”

Prosseguindo a leitura temos: “mas livra-nos do mal.” Isso pode ser considerado como sendo outra petição, ao mesmo tempo em que é uma extensão da anterior. A real importância está no fato de que no grego, “do mal”, pode ser masculino ou neutro e por isto pode ser considerado como o mal de modo geral (tentações, más condições de vida, sofrimentos em geral, etc.)[2].

A parte seguinte, “Porque teu(...)”, normalmente aparece nas edições bíblicas entre parênteses indicando que não são encontrados nos melhores manuscritos, não fazendo parte da oração original de Jesus, o que não significa que não podemos usá-lo em nossa oração, pois expressa uma verdade absoluta.

Ao término desta breve reflexão, devemos reforçar a idéia de que o desejo de Jesus foi nos mostrar, através de um modelo de oração, quais devem ser nossas motivações quando levamos nossa mente e nosso coração a Deus.

Já mencionamos esta idéia, mas creio ser importante relembrá-la. Em momento algum Jesus teve a intenção de fazer com que a oração do Pai Nosso se tornasse uma espécie de “reza” repetitiva.

Meu desejo é que a partir de agora, você e eu possamos fazer nossas orações de maneira mais consciente e que através de um verdadeiro “diálogo”, movido por corações sinceros, levemos a Deus nossa gratidão, nossos desejos e petições. E que firmados na fé em Jesus Cristo, possamos manter viva a convicção de que seu amor e misericórdia serão sempre derramados sobre nós.

Deus a todos abençoe grandemente!

Marcos Miranda



[1] [Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre, Amém.] estão omitidos nas melhores traduções,inclusive no livro de Lucas 11.1-4.

[2] Chanplin, Russel Norman.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR! 4

Curitiba, 14 de junho de 2010

Versículo 11:

“o pão nosso de cada dia nos dá hoje”

Trata-se de uma petição, e é possível entender que Jesus não está se referindo ao pão espiritual e sim do pão físico. Mas é verdade que encontramos em outras passagens ele falando sobre o pão espiritual, como em João 6. 22-40.

Conhecendo Jesus como uma pessoa que sabia viver cada dia conforme a vontade de Deus e sob seus cuidados, ele jamais nos orientaria a ficarmos preocuparmos, pelo menos de maneira demasiada, quanto ao alimento do futuro. Seria um contra senso para alguém que ensina aos discípulos e ao povo a importância de não sermos ansiosos e confiarmos na providência divina. (Mat 6.25)

“25 Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?”

Tenho um amigo que certo dia falou algo que me levou a ser mais grato a Deus pelo que tenho recebido dele. Ele disse: “Minha casa não é uma mansão, minha comida de cada dia não é caviar, nem filé mignon, minhas roupas não são Levi’s, Puma, Gap... afinal de contas, Deus não me prometeu nada disso, ele prometeu que eu teria onde morar, o que comer e o que vestir e nisto ele tem sido fiel.”

A preocupação de Jesus era com o hoje, com o agora, por isso nunca fugia ao foco dos propósitos de Deus para sua vida.

Temos agido desta forma?

Em geral, nos preocupamos em “armazenar” para o futuro e isto em si não é errado. O problema é quando fazemos disso o objetivo de nossas vidas, nos tornando mesquinhos, avarentos, e aterrorizados a tal ponto que deixamos de buscar a felicidade do hoje e do agora, esperando uma farta felicidade que ninguém pode afirmar se chegará.

Jesus nos mostra que é preciso buscar o equilíbrio, o meio termo, o bom senso. Creio ser uma boa opção ser feliz com o que temos, enquanto não podemos ser feliz com o que desejamos ter. Esta atitude não nos impede de buscar o que se deseja e nos permite curtir a alegria e a felicidade através do que se consegue conquistar no momento.

Também é importante entendermos a força do “...buscai primeiro o reino de Deus e todas as demais (não todas as coisas, como muitos usam) vos serão acrescentadas.” (Mateus 6. 26 a 34)

"26 Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas? 27 Ora, qual de vós, por mais ansioso que esteja, pode acrescentar um côvado à sua estatura? 28 E pelo que haveis de vestir, por que andais ansiosos? Olhai para os lírios do campo, como crescem; não trabalham nem fiam; 29 contudo vos digo que nem mesmo Salomão em toda a sua glória se vestiu como um deles. 30 Pois, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós, homens de pouca fé? 31 Portanto, não vos inquieteis, dizendo: Que havemos de comer? ou: Que havemos de beber? ou: Com que nos havemos de vestir? 32 (Pois a todas estas coisas os gentios procuram.) Porque vosso Pai celestial sabe que precisais de tudo isso. 33 Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas. 34 Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal."

Estaremos em paz se mantivermos sempre em mente que Deus acrescenta em nossas vidas aquilo que precisamos e nem sempre aquilo que queremos ou desejamos, pois Deus conhece nosso caráter. Sendo assim, nem sempre o que “queremos” irá acrescentar valores positivos em nossas vidas. Isto se dá porque Deus está no controle de nossas vidas, nos conhece como ninguém, mais do que nós a nós mesmos.

O termo ...todas as demais...está diretamente relacionado a isto, ou seja, serão as “coisas” que Deus considerar necessário. Portanto, não serão todas as coisas, mas aquelas que ultrapassam as nossas necessidades básicas e que agregarão valores positivos à nossa vida diante das circunstâncias.

Não devemos, no entanto, esquecer que embora Deus conheça nossas aspirações pessoais, ele se alegra em ouvir de nossa própria boca os desejos de nossos corações. Desta forma, ele nos responderá com SIM, NÃO ou quem sabe ESPERE, pois pode não ser o momento ideal para o que desejamos, levando em consideração as circunstâncias que estamos vivendo. O problema é que dificilmente temos discernimento suficiente para entender isto. Para mim e para você, tudo o que desejamos e queremos deve que acontecer, e tem que ser para já, para agora.

Por exemplo: Eu posso estar revoltado com determinados fatos que ocorrem em minha instituição religiosa, posso ter sido injustiçado por alguém, entre outras coisas.

Neste momento recebo uma benção de Deus e realizo a compra de minha tão esperada casa na praia (se este for meu desejo de consumo). Ótimo, mas, tais circunstâncias podem me induzir a ir todo final de semana “buscar refúgio” em minha casa de praia, me afastando do convívio das pessoas ou da instituição religiosa. Ao invés de procurar resolver a situação, fico alimentando sentimentos negativos em torno do fato, levo amigos para a praia e lá, confortavelmente começo a passar para eles o acontecido, instigando-os, mesmo sem perceber, a ter uma visão distorcida da instituição ou da pessoa envolvida nos fatos.

Se meus amigos não forem da minha religião ou da minha igreja como os convidarei para fazer uma visita à igreja? Certamente não desejarão fazer parte da minha comunidade de fé, pois terão uma visão negativa da mesma, e o que é pior, por influência minha.

Mais tarde, posso resolver minhas pendências com as pessoas ou instituição, mas dificilmente tirarei da mente de meus amigos a imagem negativa que plantei em seus corações.

Considerando a idéia acima, podemos entender que Deus considera o que desejamos, mas nos dá o que necessitamos, e na hora certa providencia a realização dos desejos (as demais coisas), e esta hora quem define é ele, que tudo sabe e tudo vê.

Cabe aqui uma observação. Quando falei: “Fica evidenciado que a oração proposta (Pai Nosso) não tinha como objetivo principal dar a Deus informações a respeito de nossas necessidades, visto que ele as conhece bem." não significa que não devemos nos dirigir a Deus com orações de petição. O próprio Jesus nos disse em Mateus 7. 7:

"7 Pedí, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei e abrir-se-vos-á. 8 Pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha; e ao que bate, abrir-se-lhe-á. 9 Ou qual dentre vós é o homem que, se seu filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? 10 Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? 11 Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas dádivas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará boas coisas aos que lhas pedirem?"

Meu questionamento está relacionado ao orarmos repetidamente em torno do mesmo objetivo material acreditando que a repetição irá cansar Deus fazendo-o nos atender, especialmente quando pedimos mal, “para nosso deleite”.

É possível ainda ponderarmos a seguinte possibilidade:

Deus é um pai zeloso. Deseja nos ver felizes, a tal ponto que ao ser “cobrado” (oração insistente em torno de algo) para realizar algum desejo nosso, pode até nos conceder, mas sempre será com o propósito de nos ensinar através das conseqüências que virão.

Muitas vezes nós pais também somos levados pelo muito insistir de nossos filhos a lhes conceder algo que poderá não trazer o resultado esperado, mas dizemos “tá bom, tá bom...”. O grande problema é que ao contrário de Deus não temos nas mãos o controle da situação futura.

Se nós que não conhecemos o futuro de nossos filhos agimos desta forma e cedemos, imagine Deus, nosso PAI CELESTE que tudo vê, tudo conhece, tudo controla e que pode transformar a experiência em algo positivo.

Há a história de outro amigo que ao completar 18 anos orava a Deus pedindo a oportunidade de comprar um veículo, mais especificamente um Opala, carro antigo e que ele gostava muito.

Durante dias, semanas e meses orou insistindo nisto. O dinheiro estava reservado à espera da oportunidade. Quando ao olhar o jornal encontrou um anúncio a respeito, saiu correndo e fechou negócio.

Diz ele que após 6 meses orava a Deus para que encontrasse comprador para o Opala dos seus sonhos, que por ser antigo era gastador, estragava facilmente, não se encontrava todas as peças no mercado e quando as achava eram caras.

Depois de algum tempo apareceu um comprador e ele disse a Deus: “Obrigado Senhor!!!”

Sua insistência foi atendida, mas ele percebeu que era para aprender algumas lições, entre elas a de que carros antigos não cabem no orçamento de qualquer pessoa e ele era uma delas.

Perceba que um só versículo nos levou a refletirmos a respeito de muitas coisas. Esta pequena reflexão nos permite entender que Jesus realmente não estava aqui preocupado com o alimento da vida toda, assim como não se preocupava com bens materiais, mas com o alimento de hoje, sem a preocupação de fazer estoque, como se Deus não estivesse pronto a providenciar as condições necessárias para o sustento de amanhã.

Creio ser importante uma observação final em relação a esta passagem no tocante ao possível paralelo encontrado entre o pão literal e o pão espiritual. O pão literal se faz necessário para que nosso organismo mantenha-se vivo, em funcionamento. Porém, muitas vezes, podemos estar emocionalmente perturbados a tal ponto que empurramos um prato de comida (pão literal) para o lado e dizemos “não tenho fome!”. Podemos estar com o estômago vazio e ainda assim não sentir fome porque nosso espírito pode estar aflito, sem paz. Certamente a minha e a sua vida seria uma constante aflição se não buscássemos saciar nossa “fome espiritual” através do “pão espiritual”.

Quem sabe em outra oportunidade façamos um estudo relacionado especificamente deste pão.

...continua....

segunda-feira, 7 de junho de 2010

SENHOR, ENSINA-NOS A ORAR! 3

Curitiba, 07 de junho de 2010.

Dando continuidade à proposta de refletirmos em torno dos ensinos de Jesus através da oração do Pai Nosso, seguiremos a partir do Cap.5 versículo 7 que diz:

“7 E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque pensam que pelo seu muito falar serão ouvidos. 8 Não vos assemelheis, pois, a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes de vós lho pedirdes.”

Fica evidenciado que a oração proposta não tinha como objetivo principal dar a Deus informações a respeito de nossas necessidades, visto que ele as conhece bem.

Sendo assim, Jesus ao falar “não vos assemelheis, pois, a eles” - estava se referindo aos pagãos, adoradores de Baal[1], no Carmelo, e os adoradores de Diana[2], em Éfeso, que, assim como os adoradores modernos, são exemplos disso, pois pensam que “cansando seus deuses” com repetições conseguirão o que lhes pedem; os gentios habitavam entre os judeus, sendo assim, a forma de oração praticada pelas populações gentílicas eram bem conhecidas pelos ouvintes de Jesus. Os fariseus também tinham como prática muitas rezas formais e pouco se importavam com seus significados. Essa é a razão pela qual Jesus nos adverte para que não façamos igual.

Até aqui entendemos que Jesus está dando recomendações quanto ao procedimento a ser adotado ao realizarmos nossas orações. Daqui em diante, podemos entender que Jesus passa como exemplo uma oração com o seguinte teor:


Versículo 9:

Portanto, orai vós deste modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;

Vamos agora ver uma passagem que além de estar relacionada a este versículo, também me influenciou na escolha do título desta série de estudos e se encontra em Lucas no cap. 11 nos versículo de 1 a 4,

»LUCAS [11]

“1 Estava Jesus em certo lugar orando e, quando acabou, disse-lhe um dos seus discípulos: Senhor, ensina-nos a orar, como também João ensinou aos seus discípulos. 2 Ao que ele lhes disse: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o teu nome; venha o teu reino; 3 dá-nos cada dia o nosso pão cotidiano; 4 e perdoa-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos a todo aquele que nos deve; e não nos deixes entrar em tentação, (mas livra-nos do mal.)”

As palavras de Jesus em Lucas “quando orardes, dizei:” assim como “portanto, orai vós deste modo:” em Mateus, nos leva a entender que seu papel principal da oração do PAI NOSSO é o de servir como modelo de oração e não como uma “reza” a ser usada como repetição. Porém, isto não significa que ela possa fazer parte de nossas orações, especialmente nos casos citados no início destes textos, com propósitos específicos e com consciência de seu conteúdo “didático” para nossas vidas.

No início da primeira frase do versículo 9, Jesus, ao se dirigir a Deus como PAI NOSSO, incluiu todos em sua oração. Ele nos faz lembrar que devemos abandonar nossa individualidade, egoísmo e espírito de superioridade, nascidos muitas vezes da diferença de posição social ou conhecimento intelectual. Além disso, nos mostra que nossas petições devem sempre estar relacionadas direta ou indiretamente na vida dos demais, focadas no relacionamento familiar, na amizade, afetividade, compreensão e generosidade. Ou seja, nossa oração deve ser uma oração inclusiva.

Jesus, mais do que ninguém, poderia ter dito “MEU PAI QUE ESTÁ NO CÉU”, pois é filho legítimo. Mas seu espírito de unidade e o amor que tem por seus irmãos o levam sempre a interceder por todos. Por este motivo deseja que oremos com uma postura de intercessores.

Observamos também, que Jesus mostra de maneira clara, que nossas orações devem ser realizadas sem intermediários. Ou seja, que eu e você devemos e podemos nos dirigir diretamente ao grande “EU SOU”, ao nosso Deus.

Aqui cabe a observação já realizada anteriormente quanto ao fato de que no Antigo Testamento, o próprio Deus havia determinado que o povo fosse representado pelo Sumo sacerdote, razão pela qual alguns de nós têm mente que ainda hoje necessitamos de intermediários para levar a Deus nossos agradecimentos e petições. Mas precisamos lembrar que uma das funções de Jesus entre os homens foi acabar com esta necessidade.

É importante entendermos que há uma diferença significativa entre interceder e intermediar. Uma nos une em torno da busca por soluções de necessidades individuais ou coletivas (interceder), outra outorga uma ou mais pessoas a pedir ou agir em nome de alguém ou de um grupo na busca por estas soluções (intermediar).

Hoje, observamos em nossas comunidades de fé a necessidade de sermos e agirmos como intercessores. E isto só se dá com sucesso a partir do momento em que nos relacionamos verdadeiramente com as pessoas, pois é através destes relacionamentos que conhecemos e entendemos o que aflige o coração de nosso próximo, podendo assim “interceder” (não intermediar) junto a Deus para que sejam “socorridos”.

Ao falar: ...santificado seja o “teu nome”, Jesus se referia ao caráter ou à essência de Deus, o que ele realmente é.


Versículo 10:

“venha o teu reino, seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu (como no céu, assim na terra);

Jesus novamente trata aqui de uma petição. Entendemos que Jesus queria estabelecer literalmente seu reino sobre a terra, o que seria a manifestação de Deus no Mundo. (Mat 3.1,3)

1 Naqueles dias apareceu João, o Batista, pregando no deserto da Judéia, 2 dizendo: Arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. 3 Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto; Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.

Para os judeus - “O homem que não menciona o reino de Deus em suas orações, nem ao menos ora”.

Esse reino aqui na terra está relacionado diretamente à expansão da influência dos ensinos de Jesus. O Reino de Deus será totalmente estabelecido quando o último inimigo for vencido, à volta do senhor.[3] Para um melhor entendimento podemos observar o texto de I Cor. 15.24-28:

“24 Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder. 25 Pois é necessário que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés. 26 Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte.

27 Pois se lê: Todas as coisas sujeitou debaixo de seus pés. Mas, quando diz: Todas as coisas lhe estão sujeitas, claro está que se excetua aquele que lhe sujeitou todas as coisas. 28 E, quando todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então também o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos.”

Quanto ao termo tua vontade”, está diretamente relacionado à obediência dos anjos para com Deus, praticada com perfeição, e assim digna de exemplo. Jesus queria que a vontade de Deus fosse totalmente cumprida na terra, fazendo com que os homens fossem transformados, a tal ponto que a vontade de Deus cumprida no céu seria igualmente cumprida na terra. Ou seja, com a mesma presteza, dedicação e obediência.

Entre tantos questionamentos que podem surgir até aqui, me vem à mente a pergunta:

Será que conseguimos entender a responsabilidade que nos cabe a partir do momento que nos identificamos como seguidores de Jesus Cristo?

Temos cumprido os propósitos de Deus em nossas vidas com a obediência semelhante a dos anjos que estão nos céus, que nem se quer questionam a vontade de Deus?

Temos realmente crido que Deus está no controle de nossas vidas de tal forma que nos colocamos à sua disposição para que sua vontade seja feita aqui na terra?

...continua...

[1] Baal – O deus do Sol (John D. Davis – Dicionário da Bíblia)

[2] Diana – Nome dado pelos romanos a deusa Artemis que presidia aos divertimentos da caça (John D. Davis – Dicionário da Bíblia).

[3] F. Davidson. Novo Comentário Bíblico, vida nova, p956.