quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PASTORES DE GABINETE

Não se fazem mais pastores como antigamente por que não se fazem mais crentes como “antigamente”?

Ou não se fazem mais crentes como “antigamente” por que não se fazem mais pastores como antigamente?

Qual das duas frases está mais perto de nossa realidade?

As duas?

Difícil afirmar, mas, encontramos em ambas um fundo de verdade, afinal de contas, é comum encontrarmos igrejas que se tornaram muito mais instituições, movidas por relações empresariais, comerciais, e poucas relações humanas, do que igreja no sentido bíblico, onde o papel do pastor é o de pastorear e não o de administrar.

Encontramos outras igrejas onde o pastor deixa de lado o real propósito para o qual foi chamado, o de “apascentar as ovelhas de Cristo”, assim como a Pedro foi recomendado por Ele. (João 21.15-17)


15 Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos. 16 Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas. 17 Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas-me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.

Em uma das matérias que cursei na Faculdade Teológica, tive o privilégio de ter como mestre um dos mais conceituados líderes religiosos de minha denominação. Líder espiritual de mais de 5000 pessoas, entre homens, mulheres e crianças.

Certo dia, ministrando uma de suas aulas, ele abordou a importância da presença do líder na vida de cada membro da comunidade.

Aconselhou a todos, que ao estarem à frente de uma comunidade, tivessem como prioridade em sua agenda anual, um cronograma de visitação, tirando um dia específico apenas para esta tarefa.

Enfatizou o fato de que as pessoas desejam ser ouvidas, apoiadas, consoladas, apascentadas e que para cumprir esse propósito se faz necessário um verdadeiro relacionamento de amor.

Ele afirmou que dificuldades para isto existem, o que justifica a necessidade de se ter uma equipe que colabore nesta tarefa, informando as prioridades. E em seu entendimento, a responsabilidade maior quanto ao fracasso nesta área sobrecai no líder escolhido Deus.

Depois de ouvir durante praticamente toda a aula estratégias de visitação, decidi fazer uma pergunta que estava me incomodando, que foi:

“Professor, o senhor nos mostrou de forma incontestável a importância da visitação pastoral. Como o senhor tem feito para que isso seja uma realidade em seu ministério?”

Um longo período de silêncio se fez na sala de aula... algumas vezes ele ameaçou uma resposta... foi quando ele falou:

“Gente, tenho que confessar a vocês uma coisa... essa tem sido minha maior frustração ao longo desses anos frente ao ministério. Realmente não tenho conseguido visitar os membros de minha comunidade.”

É claro que a humanidade mudou, a sociedade mudou, a igreja mudou...

Coisas da modernidade! Afinal de contas, só Deus é imutável, Ele é o único que é “o mesmo ontem, hoje e sempre”. Diriam muitos.

Concordo!

Porém, como explicar o fato de que muitas de “nossas” igrejas estão permitindo que atitudes e práticas comuns àqueles que não vivem debaixo da “palavra” permeiem a igreja do imutável?

Certo dia, ao levar minha filha Ana Carolina para a escola (ensino médio) juntamente com uma de suas amigas, chamada Emanuelle, conversávamos sobre o futuro, sobre estudo, sobre namoro e casamento. Foi quando sua amiga disse: - Coisa que eu jamais faria é casar ou com muçulmano ou com um “crente”.

Imediatamente indaguei: - Como assim? Qual o problema? Você não sabe que somos “crentes”?

Ela respondeu: - Claro que sei! Inclusive já estive várias vezes na reunião de adolescentes com a Ana Carolina. Mas a igreja de vocês é diferente! Não é chata, não fica cobrando nada, etc.

Aquela resposta realmente me preocupou. Nossa igreja seria diferente por que não estaria pregando a palavra do “Deus que é o mesmo ontem, hoje e sempre”?

Ou por que estaria pregando a palavra contextualizada, com coerência, com respeito às diferenças?

Perguntas que certamente cabem a tantas outras igrejas. Perguntas de respostas difíceis.

Às vezes, fazemos programações que se assemelham de tal forma ao estilo do “mundo” que nós mesmos perdemos os parâmetros adequados para fazer algum julgamento quanto ao certo ou errado diante da palavra de Deus.

Questionamos com facilidade a eficácia dos métodos bíblicos e muitas vezes tentamos justificar dizendo: “É melhor eles estarem aqui fazendo ‘desta forma’ do que estarem lá no ‘mundo’ ”.

Colocamos em “cheque”, e por que não dizer, duvidamos da eficácia dos métodos indicados pela palavra, e tentamos dar uma “ajudinha moderna”, um “jeitinho”, para que tudo saia como nós desejamos.

Hoje, Emanuelle está casada com um jovem “crente” que conheceu, e que a levou para visitar a igreja em que freqüentava, que diga-se de passagem, é muito mais “tradicional”, muito mais “exigente” quanto a “conduta” individual e coletiva de seus membros do que a nossa.

Ela batizou-se e tem sido um exemplo de vida para seus familiares e amigos.

Imagine! E ela dizia que jamais casaria com um “crente”.

Incrível, mas parece que “Pastores de gabinete” conhecem profundamente a vida de suas comunidades na teoria, pois afinal ouviram falar que “fulano ou sicrano” está passando por dificuldades familiares, financeiras, com o emprego, com doenças na família, com adolescentes em crise, etc...

“Pastores de gabinete” só visitam abatidos espiritualmente quando esses são proeminentes membros da comunidade, afinal de contas, são formadores de opinião, possuem “peso” na hora da conquista de “votos” diante de uma reunião decisiva de assembléia, especialmente quando diz respeito à aquisição patrimonial.

“Pastores de gabinete” passam a administrar, a legislar no lugar de pastorear. Perdem a capacidade de relacionar-se de forma pessoal, se esmeram em coletar informações a respeito dos membros de sua denominação e a partir delas delegar a outros aquilo que lhes compete fazer como líderes, apascentar as ovelhas de Jesus Cristo.

Posso estar enganado, mas muito em breve as pessoas entenderão que não precisam mais da figura do pastor como seu líder espiritual, que podem viver sem o envolvimento “institucional”, o qual em muitos casos coloca pesos em seus ombros, financeiros ou não, como parte das ações que lhes concederão a salvação da alma.

Sensação de culpa! Esta é uma das estratégias usadas por muitos “pastores de gabinete” para manter “seu próprio rebanho” unido em busca de objetivos comuns, porém, que em muitos casos satisfarão seus ideais pessoais como líder.

“Pastores de Gabinete”. Para eles, o importante é o crescimento numérico, e consequentemente o financeiro e o patrimonial, crescimento que não se traduz em impactos positivos na sociedade.

Atitude que certamente não condiz com os propósitos daquele que disse: “... APASCENTA MINHAS OVELHAS.”