domingo, 27 de março de 2011

AUTISTA POR OPÇÃO

Dias atrás, em minha caminhada diária, no meu parque preferido - o parque do Bacacheri - algo me chamou a atenção: o fato de que a grande maioria das pessoas, especialmente os mais jovens, caminhavam com fones nos ouvidos.

O mais interessante é que mesmo as que caminhavam em duplas ou em grupo faziam uso de fones, e vez ou outra eu ouvia um dos companheiros dizer: - Heinnn???

Claro que um dia ou outro eu também caminho ouvindo músicas.

Depois desse dia, passei a prestar mais atenção a este fato, e ao andar de ônibus percebi que em seu interior a grande maioria fazia uso de algum tipo de aparelho sonoro, tornando-se alheios aos acontecimentos.

Idosos, gestantes, mães e pais com crianças de colo embarcavam, mantendo-se em pé, pois os sentados, especialmente os mais jovens, não se davam conta disso. Mantinham-se como que “hipnotizados pelo som”, em alguns casos cantando baixinho, balançando suas cabeças, cada qual em seu próprio ritmo.

Desci do ônibus, e caminhando no calçadão da Rua XV, a Rua das Flores (que não tem flores), novamente me deparei com um número significativo daqueles que passei a identificar como “autistas ambulantes”.

Jovens que caminham lado a lado de tantos, mas distante de todos.

Alguns parecem distantes de si mesmos.

Caminham alheios... displicentes... ignorando todas as alegrias que a nossa bela cidade proporciona, quanto mais as tristezas.

Estes jovens - talvez movidos pela idéia de que ninguém tem nada a ver com a vida e os problemas dos outros - estão fadados a uma existência sem muito sentido, vazia, solitária, ainda que rodeados de gente.

Alimentado pela curiosidade e sendo um pouco mais observador, percebi que há um número significativo de pessoas que faziam uso de suas bicicletas em meio ao nosso trânsito caótico e quase todos com seus fones de ouvidos.

Alguns deles trafegavam pela contramão, fazendo conversões perigosas, atravessando o sinal vermelho, assustando motoristas e pedestres. Sem ouvir buzinas de alerta, sirenes de polícia ou bombeiro, andavam tão alheios quanto aqueles, como verdadeiros “autistas”, mas por opção!

Voltando para casa, desci do ônibus e me deparei com o pior de todos os “autistas por opção”. Era um jovem que dirigia seu carro com grandes fones de ouvidos.

Quanto a este... falar o quê?

Caminhando até minha casa, refletindo a respeito de tudo isso, cheguei à conclusão de que realmente estamos criando verdadeiros “autistas”. Crianças e jovens que se fecham em seus próprios mundos, remoendo seus próprios problemas, suas frustrações, como se fossem os únicos que merecessem atenção. Jovens alheios aos problemas de seu próximo, que perdem a oportunidade de crescer como cidadãos, talvez por não terem sido orientados a se doar.

Vivem como verdadeiras ilhas.

Ao chegar em minha casa, entrei, fechei a porta, como quem deixa os problemas do lado de fora e “tirei meus fones de ouvidos” (brincadeirinha) para refletir a respeito desta constatação.

Sabemos que solidão não significa necessariamente morar sozinho, mas sim viver sozinho! Em geral, podemos dizer que em algum momento da vida todas as pessoas são atingidas por ela de alguma forma, seja emocional, social ou existencial. E ela tem sido uma das grandes responsáveis por uma parte significativa dos sofrimentos de homens, mulheres e crianças.

O próprio Deus, quando no ato da criação, entendendo como ninguém a alma de sua criatura, disse em Gn 2.18:

“Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora que lhe seja idônea.”

Nossos jovens estão carentes de amizades verdadeiramente significativas, pois estas são incondicionais e estão sempre prontas a nos ajudar diante das dificuldades, como vemos em Eclesiastes 4.9-10:

"9 - É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas.10 – Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se!.”

Precisamos mostrar, especialmente aos jovens, que o primeiro e melhor amigo com quem podemos contar em toda e qualquer situação é Jesus. Em João 15.12-15 ele nos mostra que nos ama como ninguém:

“12 - O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. 13 - Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. 15 - Já vos não chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho feito conhecer.”

Este realmente é o verdadeiro e melhor exemplo de amizade incondicional que podemos mostrar a eles.

Sabemos no entanto que é possível encontrarem outros dispostos a seguir seus passos. Para isto, precisamos levá-los a tirar espontaneamente os fones dos ouvidos, para que passem a ouvir e ver a vida com ouvidos e olhos semelhantes aos de Cristo. Assim, poderão captar nos fatos e atos do dia-a-dia mensagens que lhes estimulem a buscar pela cura de suas angústias pessoais, trazendo-os para viver o aqui e o agora, mas com perspectivas positivas do amanhã que não tarda a chegar.

Que possamos levar nossas crianças e nossos jovens a buscarem para si ouvidos e olhos atentos, sob uma ótica divina. Que com cabeças erguidas, sigam em busca de verdadeiros significados para suas vidas. Significados encontrados no convívio com aqueles que lhes rodeiam.

Quem tem ouvidos para ouvir que ouça...

Quem tem olhos para ver que veja...

Quem tem amor para dar, que não perca a oportunidade de demonstrá-lo, seja onde for e sempre na medida que se fizer necessário, no parque... no ônibus... na fila do banco... no trabalho... no futebol... seja onde e como for... pois uma coisa é certa: COM JESUS, AUTISTAS POR OPÇÃO JAMAIS!